O que a viagem a Beja fez de mim
Nas viagens, como nos mais pequenos pormenores da vida, temos de ser nós a descobri-las para lhes dar valor, para apreciar a sua beleza. Não há muito tempo, terminei de ler um livro intenso do Gonçalo Cadilhe: "Um lugar dentro de nós". A narrativa tem pelo meio algumas lições de vida que as pessoas aprendem enquanto viajam, mas que eu ainda não tinha compreendido realmente. Não precisei de ir muito longe para perceber o que o autor queria dizer quando escreveu: Não importa onde te leva a viagem mas sim o que ela faz de ti.
Parti à descoberta do que eu sou na minha viagem a Beja. Não posso esconder como estava desinspirada para esta viagem... não ia por lazer, não me sentia motivada e muito menos com vontade de "ir à descoberta". Foram quatro dias de um retiro que fiz, quase involuntariamente, e que me marcaram, sem dúvida.
Não sei se foram os campos a perder de vista, o pôr do sol inesquecível, o cheiro a campo ou a genuidade do Alentejo. Há qualquer coisa de indescritível e indecifrável na pessoas que habitam esta região. A sensação que tive ao permanecer em Beja, é que os habitantes fazem-nos sentir que pertencemos ali, sem pertencer. São muito agarrados à sua identidade e têm orgulho em demonstrá-lo aos visitantes e ainda que nos queiram incluir nas suas tradições, seremos sempre quem "está de fora" e quem tem um sotaque completamente desenquadrado do alentejano.
Gostei das ruas cheias de gente, da animação, de ver tanta criança junta, dos mercados de rua e das rotinas que não morrem. O pão alentejano cativou-me, a par com a sopa de tomate à alentejana... já para não falar da inigualável sopa de cação que envolve o corpo numa mistura de sabores e sensações. As pupias foram uma óptima sobremesa e nao faltou o belo queijinho.
O que eu trouxe na bagagem foram decisões. Esta viagem fez de mim uma pessoa em busca de realizações, em busca de uma missão. Cheguei inspirada a mudar, a acreditar que sou capaz, a apostar nos meus sonhos, porque se podem tornar projectos reais. Foi uma escapadinha da realidade que me permitiu ponderar se já cheguei onde queria. Não cheguei. E fui a Beja descobrir isso. Fui descobrir-me a mim, pela viagem. Fui descobrir um lugar dentro de mim.